História e Linguagens: pesquisas em quadrinhos e cinema

Fazendo Educação




ISBN: 978-65-6009-154-2

DOI: 10.5281/zenodo.15183324

Descrição: O “I Seminário Nacional de História e Linguagens: Pesquisas em Quadrinhos e Cinema” ocorreu de 11 a 13 de setembro de 2024, consolidando-se como uma iniciativa voltada ao debate interdisciplinar sobre as interseções entre História, narrativas visuais e cultura midiática. O evento, totalmente online e gratuito, recebeu 106 propostas de apresentações de trabalho, mediante resumos submetidos. Reuniram-se pesquisadores de diversas instituições nacionais e internacionais, proporcionando um espaço de discussão sobre as Histórias em quadrinhos (HQs) e o cinema como fontes históricas, linguagens narrativas e objetos de pesquisa. 
De um ponto vista histórico, o evento, antes de tudo, surgiu de um esforço coletivo que remonta ao menos o ano de 2010, quando as primeiras discussões mais críticas sobre histórias em quadrinhos e História se faziam em espaços de debate acadêmico informal, como o Café História, fórum que, desde 2008, atuava como um portal de divulgação científica dedicado à História. Foi nesse ambiente que historiadores, muitos deles em início de suas carreiras, iniciaram reflexões sobre a ausência de pesquisadores do campo na análise das HQs e sobre a predominância de abordagens oriundas da Comunicação Social e dos discursos memorialísticos. 
Em 2011, parte dos membros do fórum se reuniu no XXVI Simpósio Nacional de História da ANPUH, realizado na Universidade de São Paulo (USP), para desenvolver essas discussões em um espaço institucionalizado. Foi a primeira vez que colegas do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e de outros estados se encontraram presencialmente para debaterem sobre o tema. Nesse evento, o Simpósio Temático “História e Quadrinhos: pesquisa e ensino em História e as interações com a nona arte” não foi coordenado por historiadores, mas por comunicólogos . Nessa ocasião, estes jovens historiadores confrontaram, em um evento de grande porte, as abordagens predominantes sobre os quadrinhos, que tendiam a enfatizar uma perspectiva centrada em categorias engessadas, como as "Eras de Ouro, Prata e Bronze", e na valorização de figuras tidas como fundadoras do meio. Acostumados a lidar com a historicidade dos objetos de pesquisa e com os debates teóricos da disciplina, muitos estranharam a ausência de uma problematização mais profunda sobre os quadrinhos como documentos históricos. Esse encontro na ANPUH representou, portanto, um momento decisivo para a formulação de uma abordagem crítica que reivindicava os quadrinhos não apenas como produtos culturais, mas também como fontes legítimas para a pesquisa historiográfica.
 Nos anos seguintes, essas discussões foram ampliadas. Esse percurso passou, em 2017, pela articulação de historiadores que resultou no ano de 2021 na publicação de História e quadrinhos: contribuições ao ensino e à pesquisa, livro da editora Letramento que reuniu pesquisas hoje reconhecidas como referências no campo . Em um momento posterior, fez-se um grupo de WhatsApp, que, apesar da informalidade, se tornou um espaço de articulação entre esses mesmos pesquisadores, permitindo trocas sobre metodologias, abordagens e referências bibliográficas. Em certo ponto, o grupo passou a incorporar o cinema como objeto de análise, através da chegada dos colegas do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS), cujas investigações já dialogavam com as relações entre história e audiovisual. Essa ampliação representou um desdobramento natural das discussões, que há tempos exploravam a interseção entre diferentes linguagens visuais e suas implicações historiográficas. Foi nesse ambiente que novas iniciativas foram gestadas, entre elas a ampliação dos diálogos com pesquisadores de cinema e cultura visual, e, por fim, a concepção do “I Seminário Nacional de História e Linguagens: Pesquisas em Quadrinhos e Cinema” em 2024.
Longe de ser marcado por protagonismos individuais ou por qualquer pretensão de pioneirismo, algo muito comum no âmbito da pesquisa acadêmica das histórias em quadrinhos – especialmente no contexto paulistano, onde a disputa por reconhecimento intelectual se manifesta na reivindicação de precedência ou de autoria exclusiva de determinadas iniciativas –, o evento se inseriu em um processo contínuo de construção coletiva, evidenciando a força de redes de colaboração descentralizadas. O Seminário não surgiu de uma ruptura ou de um esforço isolado, mas da convergência de diferentes trajetórias e interesses que, ao longo dos anos, foram se entrelaçando em torno da necessidade de consolidar o estudo das narrativas visuais na historiografia. 
Tanto o grupo responsável quanto o evento se inserem em um percurso atravessado por essas múltiplas iniciativas de longa data, tão difíceis de serem mapeadas em sua totalidade justamente por se tratar de esforços descentralizados, coletivos e muitas vezes dispersos em diferentes contextos institucionais. 
Neste livro, temos a materialização desse processo coletivo. Muitos que faziam parte do hoje extinto Café História estão aqui presentes como autores, ao lado de outros que, naquele mesmo período, já desenvolviam pesquisas sobre quadrinhos e cinema em diferentes espaços acadêmicos. Juntaram-se a outros pesquisadores mais novos. Os estudos reunidos nesta coletânea transitam por múltiplos eixos temáticos, explorando desde a materialidade dos impressos até a relação dos quadrinhos com políticas públicas, representações de gênero, relações étnico-raciais, trauma, memória e cultura digital.
O conjunto de textos reunidos neste livro traduz uma construção coletiva, evidenciada pela amplitude e a relevância dessa rede de pesquisadores comprometidos com a análise crítica dos quadrinhos e do cinema na historiografia. Ao reunir pesquisadores com formações diversas, consolidam-se vínculos que ultrapassam as fronteiras institucionais, ampliando o escopo das reflexões e fortalecendo um campo que, por muito tempo, encontrou resistência no meio acadêmico. Esse esforço conjunto não apenas legitima as histórias em quadrinhos e o cinema como fontes historiográficas, mas também evidencia o compromisso com uma abordagem mais ampla da cultura visual, compreendida como parte essencial da experiência humana. O “I Seminário Nacional de História e Linguagens” não se encerra com esta publicação, mas se desdobra em novas possibilidades de investigação e pela perspectiva de futuras edições do evento. 
Por fim, boa leitura e até o próximo livro!

Organizadores: Geovano Moreira Chaves e Márcio dos Santos Rodrigues 

Autores: Celbi Vagner Melo Pegoraro; Gazy Andraus; Geovano Moreira Chaves; Guilherme Freire Marques; Ivan Lima Gomes; Karoline Caetano Brito; Lucas Mello Neiva; Lucas Silva de Oliveira; Márcio dos Santos Rodrigues; Natania Aparecida da Silva Nogueira; Rodrigo Aparecido de Araújo Pedroso; Victor Callari; Wagner Guimarães da Silva Almeida.

Capítulos
Capítulo 1
A LEITURA DE IMAGENS, ENTRE SONHOS E PESADELOS: UM ENSAIO SOBRE QUADRINHOS NO SÉCULO XX
Ivan Lima Gomes

Capítulo 2
OS TRAUMA STUDIES E AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Victor Callari

Capítulo 3
A METRÓPOLE COMO AMBIENTE NIILISTA EM BOB CUSPE
Geovano Moreira Chaves

Capítulo 4
USOS E ABUSOS DE ÁFRICA POR GIBITUBERS
Márcio dos Santos Rodrigues

Capítulo 5
POLÍTICAS PÚBLICAS E O MERCADO DE QUADRINHOS NACIONAIS
Karoline Caetano Brito

Capítulo 6
MASCULINIDADES E VIOLÊNCIA EM LA FRANCESA, DE CARLOS TRILLO E PABLO TÚNICA
Wagner Guimarães da Silva Almeida

Capítulo 7
ESTADOS UNIDOS, CONSERVADORISMO E IMIGRAÇÃO ILEGAL NOS QUADRINHOS DO CAPITÃO AMÉRICA 2015-2020
Guilherme Freire Marques

Capítulo 8
PRETO NO BRANCO: QUADRINHOS E HUMOR DE INVERSÃO RACIAL EM O TICO-TICO
Lucas Mello Neiva

Capítulo 9
A PARATOPIA CRIATIVA DOS FANZINES, ZINES, ARTEZINES E AFINS (minicurso teórico-prático)
Gazy Andraus

Capítulo 10
AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: EDUCAR PARA NORMATIZAR
Natania Aparecida da Silva Nogueira

Capítulo 11
“MACHOS NO AR”: MASCULINIDADE E GUERRA EM TOP GUN (1986 E 2022)
Lucas Silva de Oliveira
Rodrigo Aparecido de Araújo Pedroso 

Capítulo 12
HISTÓRIA EM QUADRINHOS E ANIMAÇÃO: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS DE LINGUAGEM
Celbi Vagner Melo Pegoraro

AUTORES

ORGANIZADORES



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